quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Brasil produz primeiro longa-metragem latino-americano em Stop Motion

As matérias do Conecte - Jornal da Globo estão muito boas
 (Veruska Donato-Florianópolis, SC)

O Brasil vai entrar no seleto grupo de países que produzem longas metragens de animação em Stop Motion. Na América Latina, seremos os primeiros. Veja na coluna Conecte desta quinta-feira.

Parece computação gráfica, mas as imagens são reais. 
São as primeiras cenas de "Minhocas", que conta as aventuras do adolescente Júnior em Stop Motion. 
Stop Motion, ou movimento parado, é uma técnica de animação quadro a quadro. Pode ser feita com desenhos ou com modelos reais. 
“Subo mais um pouquinho a sobrancelha, vou lá, tiro outra foto, depois subo mais um pouco, tiro outra foto”, afirmou um dos jovens. 
E haja paciência! 
Em um prédio visitado pela equipe de reportagem ficam oito estúdios da produtora. Imagens mostram que a maioria estava ocupada com pessoal gravando cenas para o filme. O Gabriel e a Camila estão há um mês gravando essa seqüência, que tem, acreditem, nove segundos. 
Para a fotografia, um terreno fértil: são 24 fotos com qualidade Full HD por segundo de cena, ou seja, 122 mil, para os 85 minutos do longa. 
Tudo é automático. O computador dispara a câmera e só quem pode encostar nela é o diretor de fotografia. 
“Acontece do diretor não gostar (da sequência) e a gente ter que fazer tudo de novo. A última cena, eu demorei três semanas para fazer oito segundos. E ele não gostou. Tenho que refazer depois dessa”, disse o animador Thiago Calçado. 
Ao todo, serão oito anos de trabalho para completar o filme, que deve estrear nos cinemas no comecinho do ano que vem. 
Tamanho desafio só foi possível porque os equipamentos estão mais baratos, há incentivos e mão de obra qualificada. 
“Nós encontramos a maioria das tecnologias no Brasil, em Florianópolis e, por isso, a nossa decisão de sair de São Paulo e vir para Florianópolis. Em um primeiro momento parece estranho para quem escuta, mas Florianópolis é um centro de excelência tecnológica no Brasil já há muitos anos”, observou o diretor Paolo Conti. 
Um exemplo disso foi o desenvolvimento do Motion Control, uma câmera robotizada que permite sequências impossíveis para qualquer outro equipamento. 
Em Hollywood, o Motion Control é muito usado em cenas de ação e associado a efeitos de computação gráfica. 
Mas, como é caro, não se vê em produções nacionais. O equipamento criado para o “Minhocas” tem precisão cirúrgica. 
“Você consegue fazer um movimento linear ou uma curva de aceleração bem suave. Se fosse na mão, você medindo na régua, você não teria um movimento tão suave”, explicou Eduardo Amodio. 
Outro aparelhinho bem conhecido de quem assiste à Conecte também ajuda a fazer o minhocas: é a Prototipadora Industrial ou impressora 3D. 
Todos estes objetos foram feitos em impressoras em 3D. Esse vídeo mostra em segundos o que a máquina leva cinco horas para fabricar: neste caso uma ferramenta. 
A impressora resolveu uma parte crítica do processo: a criação de 1000 bocas para 45 personagens. 
“A primeira matriz, que é a original, ela é feita à mão, modelada por um artista. Essa matriz é escaneada em um scanner 3D e é jogada para um software de computação gráfica. Esses arquivos de boca vão para prototipadora. Isso faz com que nós tenhamos uma flexibilidade na boca muito legal”, detalhou Paolo Conti. 
Cada uma corresponde a um fonema. Tudo em inglês, afinal a pretensão é lançar o filme também no mercado internacional. 
“A gente manda tudo para uma outra companhia que gera para a gente uma ficha indicando qual boca deve ser usada em determinado frame. Aí o lip sync já vem pronto”, disse Eduardo Amodio. 
Para se ter idéia do desafio, até hoje foram lançados pouco mais de 80 longas em Stop Motion no mundo inteiro. Um deles foi "Fuga das Galinhas", que teve orçamento estimado em R$ 60 milhões, muito maior do que o de "Minhocas". 
Para compensar a diferença colossal de dinheiro, entra em cena o bom e velho jeitinho brasileiro: com gel de cabelo foi possível simular o efeito da água. Um resultado encantador. 
A própria escolha da minhoca em si já foi uma solução: personagem que não faz movimentos complexos. É mais simples de animar. 
Assim, cenário e tudo que se move ganharam acabamento impecável no computador. 
“Muitas pessoas olham e dizem: ‘nossa, parece 3D’ ”, concluiu Paolo.

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